segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Tiquetaque

Sobre este barulho na minha alma,
Não descobri se é de bater de asas
Ou do tiquetaque acelerado do relógio
(O tempo cronometrado a acabar)
Que se guarda em meio a dois pulmões inglórios
Que se negam a me deixar respirar
Sempre que vivo um pouquinho.
Afinal, o que é mais vivo do que o sentimento de desimportância?
O que é mais real do que o sentir?
Nada. Nunca há de haver realidade que o alcança.
Sentimos como o primeiro sapiens sapiens sentiu
Sentimento é a instância do ser.
Existir é não privar-se de sentir.

Canta e grita, minha estima própria
Será que um dia irei te ouvir?
Quanto mais esperneias, menos faço questão de ti.

Marcas minha testa com o símbolo da organização dos que-nunca-se-aceitaram.
Dos que-nunca-se-encontraram e dos que-nunca-se-encontrarão
Os que buscam a plenitude tão fortemente que fingem que não é só concepção.
Quanta diferença, quanto desencontro
Quanta humilhação!
Eita que a vida me parece um dia no lixão.
No meio de tantas coisas rejeitadas
Você procura por algo de valor
Se achar, é alegria.
Se não, é "procure amanhã, por favor!"
Chico disse que vai ser outro dia.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O nascimento do poema

Não!
Parem de achar que é o poeta quem faz o poema.
O poema acontece, imprevisível
Como um filho não planejado
É um nascimento, um ser vivo e amado.

De uma transa entre o amor e a palavra, filhos.
Nenhum deles amoroso
Nenhum deles é saudoso
Todos são sombrios.

Que maravilhosamente esquisitas foram as Cesárias
daqueles meninos e meninas poemas
Poemas machos, poesia fêmea
Eu, poeta obstetra, tiro várias
Conclusões precipitadas
Enquanto o amor faz planos
E dá nome a seus filhinhos
Me pedindo opinião. 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O PASSAro

Foi rápido como o pouso do sabiá
Cansado e cheio de tédio
Sobre a árvore desavisada,
Cravada em solo fértil
A mais confortável à primeira vista.

A árvore se afeiçoou, ao perceber afeto
Engrandeceu o pássaro cantor
O fez sentir-se ave de rapina
Ofereceu-lhe privilégios
Fortuna que ave nenhuma jamais tivera
O lugar mais alto e distinto
Que uma planta já concedeu.
Sombra, abrigo, galhos, suporte.
Num parque de diversão rústico, uma selva de boas intenções.
Uma mais tentadora que a outra.

O sabiá alegrou-se, cantou
Regozijou-se dos prazeres gratuitos
E criou confiança em si.

Quanta felicidade havia no passarinho.
As cantorias sem controlar volume.
O alimento que caminhava na direção do seu papo.
A dança do troca-pés
O rebolar desengonçado
E aquela euforia toda num mero assobiar!

Numa dessas desatentas trocas de pés
Cortou a pata, o sabiá
Num dos muitos espinhos espalhados
Que por cansaço ou impaciência nunca quis notar.
Andou tão pouco 
Naqueles ramos tão premeditadamente bonitos
E cortou a pata.
Saiu, ainda de asas um pouco cansadas, a voar.
Formoso em seu planar, como sempre será,
E seguro de que aquela árvore o sentiu pela última vez.

Olha a árvore
Apaixonou-se pelo sabiá
Mas esqueceu que o voo é a maior felicidade do pássaro
E não o pouso pra descansar.

É um vento com odor de saliva
Que agora move as folhas que ainda seguram-se verdes.
É a gravidade, recheada de peso pela saudade,
Que agora curva o caule antes tão ereto.
É a terra desnutrida que criou um tubérculo
Que agora figura no lugar de uma raiz.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Retalhos

Mário joga retalhos de sentimentos
Num pano de guardar confetes
Ou os embrulha em papel de presente
(O enfeite é pintado em blue decrescente.
É um degradê que oferece a outro alguém).

Coitado.

Sabe bem que os retalhos não surgem do nada.
É claro que os corta do rabo da saia
Que o passado vestiu
E ele aplaudiu de pé.

Mas (sempre o mas!)
Estuda na rua o porquê da paixão
Um flaneur sem imaginação
que vagabundeia vigiando o interpretar
de suas ofertas de sentimentos retalhados.

domingo, 6 de setembro de 2015

Um espelho esbafejado

Um espelho esbafejado.
Um olhar impulsivo
vê gotas de feiúra e falência
sobre um rosto borrado refletido.
Declaro o espelho culpado
pelo crime de ter distorcido
nossas visões de nós mesmos.
Criminoso! É um grande perigo
deixar-nos seduzir.

Mesmo depois de ser limpo,
ainda existem imperfeições.
O rosto sem borrões já pode ser visto.
É uma face de rugas arrogantes
que tornam o rosto impressivo
(Rugas cuja existência é digna e dignificadora,
mas que de ler não sou digno)
Tento ler nelas o nome da rosa
e, porventura, consigo.
Quanto à dificuldade, não se preocupe
- é uma aventura e um risco
que tive o prazer de passar.
As rugas que mais valem a pena ter tido,
mais que as do choro que me constrói,
são as rugas do sorriso.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Poema IV

O silêncio é meu cigarro.
Por favor, apague as ladainhas
no cinzeiro logo ao lado.
É proibido falar.

Fume, fume
fume, fume
fume, fume
sua fumaça infernal
E me deixe tragar a ausência de palavras,
de sons, de elo
e, sobretudo, de alma.

Se nem meu corpo se satisfez,
se nem minha carne se encheu de sangue,
é porque até de conversas bestas
se cria atração intelectual, não se
cria de aparência, porém, e
não se criou da tua fala.
Por isso o sexo foi murcho
mesmo que insistas na tara
de dizer que foi bom, mas faltou impulso.

Sinto o cheiro forte do silêncio
essência de decepção que me encobre.
Ainda bem! Já não sinto o aroma da tua importância
que antes infestava minha ânsia.
Isso é ciência, meu Deus,
Ciência do olfato.
O silêncio
é meu cigarro.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Poeminha de amor?

É muito mais fácil 

amar antes de saber.

Antes de entender que 

o amor não é repentino.

Depois...

Depois disso, só o gostinho

De bocas já bastante beijadas

Pelas experiências, pela cevada

Pelo sofrimento.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Nighty you


Noite, desaperte meu pescoço manso
e permita o humilhante discurso.
Ah, crepúsculo que oprime ensinando a paz,
madrugada que inútil me faz,
não te consigo ser dia,
apesar dos raios de sol 
Que - mesmo que sejas fria - insistem em estampar 
                                                                [teu seio.
Que reluzem em tons de azul ora fosco, ora bruto.
Que me permitem um olhar, ainda que turvo, 
                                                  [para o teu existir.

É um nevoeiro, é sim, só pode ser!
Para não ser passageiro não há mais razão.
Alternativa: a desilusão noturna vai se impor
e viverei no enegrecer pálido do céu,
um vulto insano, louco por luz,
até que venha o súbito pôr-de-mim
e poderei raiar novamente 
depois de alimentar-me do néctar da tua escuridão.

Serei eu capaz de descomplicar
as tuas sombras quase sólidas, ou elas,
como a percepção de ser só, lhe dão
tua tão importante solidão?

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O banho


No banho que demora vidas

As duas mãos na face usada

Não significam nada mais que expurgação do sujo

Enquanto pingos de água e lágrima

Descendo pela pele pulam

(O fim é o chão) apostam corrida


Como as vias rubras desenhadas pela agonia abarrotada de arrependimento e culpa

Que ousou fazer-se líquida

Mas estável - e surda - como rocha


Espalha-se pelo corpo


Queima. Bolhas, dor, feridas

Ácida da acidez da vida

Até chegar ao fim.

sábado, 1 de agosto de 2015

Face imolada

Ainda é possivel enganar-se
E enojar-se do mesmo umbigo
Que agrada tuas obsessões

Banhar-se com o mesmo mel
Que te adoça a boca
E grudar na poeira que o acaso traz nas costas

Ainda é possível. Ainda
Que o cuspe suje a cara
Ao molhar a queimadura
Em formato de máscara
Que a verdade imolou.

domingo, 19 de julho de 2015

Cédulas falsas

Este poema é falso
Como finjo que sou
Prometo que é
Juro mesmo que solto
Do verdadeiro
Me enraízo em congruência

Te escreveria um tratado
De paz, e tu sabes, pela tua importância.
Percebeste pelas ofertas
De bolo e concordâncias
De afeto e cervejas
Várias cervejas de trigo
Importadas, sobretudo, da Alemanha
Que não ofereci
Nem pensei
Mas com cédulas falsas comprei
Não de dólar, não de peso
de mentira
Moeda barata
Não rara, impossível
Vale menos que o real
Menos que um real é o que paga
Quem recebe é quem dita
O valor da moeda

Que minha aflição vibre!
E alcance teus ouvidos grossos
E que tu aceites
O barato como caro
Em forma de 
Especial,
O ordinário
Falso de tanto falsificar

sábado, 11 de julho de 2015

Poema II

Na pele da amizade você é a verruga

Do corpo da loucura é o microrganismo expelido

É o não-ser em meio aos seres

É a não-vida em meio às vidas

É o alimento pressionado contra a glote

A pica que não quer entrar

O sem si, o sem gozo, inigrupável

O desprezível mudo

Troçado inconversável

Quando magnetizado

Sobre o imã sujo

terça-feira, 23 de junho de 2015

SangueS

Sangue de plebe, sangue de pobre
Sangue de rico, sangue de nobre
tudo pingando no solar
pigmentando o mesmo lugar.

Pingo de um.
Pingo. Pingo de outro.
Pingo de um.

Uma roxura blasfêmica
para o poeta que vê e prefere
não comparar
à cor dos quebrados porque a sorte bateu.
Roxo tanto que as palavras em repulsa
se envergonhariam com a descrição lilás
por isso não se doam não, se vendem
ao que escreve, o único
que tem interesse na alocução, aliás.
Fogem da cor da mistura
(carnavalesca, de
sublime feiura
beleza grotesca
natureza absurda).

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A mancha


Cai café,
mancha de tempo os distantes
por um pequeno instante
toda mancha da vida
vira um emaranhado de palavras
Indistinguíveis
Exceto por quem já foi manchado
Pelo mesmo café

Os camaradas oferecem pano
Ou sugerem fotografar
Cada mancha
Adotada como um cãozinho
Marrom-escuro
Escolhido por afinidade
Por um ou vários ou todos
Todo não sou já é

A mesa é branca
mas nela se evita espírito
E é redonda
Mas nem se fala em currículo
É única barreira
E havia há minutos até
Parede alta e espessa
Alicerçada em restos de relógio
Digital, de pulso, de parede, analógico
Construída a blocos de notas
De cem reais
Grudados à melosidade
De relacionamentos
Materiais tão resistentes
Diluídos em café
Tão facilmente

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Comoção, comodidade

Foges como
Ideia na rua
Feres de parecer
Aberta sutura
E minha lava rubra
Dessângua nos tímpanos
Verdade falsária
Mornidão que me para

Comodidade a exalar
E dor que não dói
Nem cirurgião médico
Está apto a expurgar
Pois confortante e confortável
Como um ombro protético
Finito e pagável
Restrito e hermético

Me comoves.
E como o fazes!

sábado, 6 de junho de 2015

In-Sônia

Está na dela
Nadando nas entranhas
Mergulhou em Sônia
Num salto mortal

Nariz que não inspira
Apontado pro fundo.
Não deixa um segundo
De nadar, cachorrinho
Sem temer que se fira
Se impulsiona à carne

Carne, desejo, sexo
Sexo, paixão e amor
Sede, de água e ternura
Não sono.
Ilumina a cor que colore o preto
De tão forte o pigmento
Com a luz dos olhos
Arregalados
Como se a sentir
O terror que vem mais tarde


sábado, 23 de maio de 2015

Saliva

A saliva do destino
Espuma e estanca
Transborda em êxtase
E escorre branca
Num fluxo intenso
pelo pescoço

Em
engano
imenso
O velho
moço
Insiste
à sorte
Implica
Um poço
imita
a vida
Irrita
a morte
e joga
Xadrez
Preocupado
Com
Comida
Teto
Fardo
Afeto
Filho
Alerta
O faro
Aperta
O cinto
Acerta
O passo
Aberta
A sina
Aquieta
O facho
Alberta
Aline
Alclézia
O Márcio
Auréola
Aqui
Ali
O diacho
Dói
A mente
Dói
O braço
Suspirou
Aliviado
Achou
Que ninguém
Tem
pregado
Sua
história
Na parede
Com
O fim
Marcado
Em verde
A data
Dita
A dito
Deles

sábado, 16 de maio de 2015

Da cadeia pelo Whats

Quem é esse cara?
Quem é o cara, Tainá?
Quem. É. Esse. Cara?
Pá!
Vamos, me diga!
Ou vou ter que perguntar da Luana, sua amiga, aquela vagabunda
Que namora e fica aí quase mostrando a bunda e, quem sabe, a xana?!
Anda, me conta!
Você tá saindo com ele, não tá?
Você já deu pra ele também, ou vai dar?
Porque se deu, você tá pronta pra sair da minha casa
Vai ter que criar asa porque até agora fui eu
Fui eu que te sustentei
Eu que te tirei da casa da mãe porque não era livre
Como assim, não tá livre aqui?
Você tem uma cozinha própria e ainda se sente presa?
Pra mim é uma surpresa essa sua cara de pau
Eu sempre fui muito legal com você
Eu sempre te dei tudo
Eu sei que sou sortudo por ter você
Eu, eu, eu. Eu.
E você também devia ser
Nós somos felizes, você não vê?
Não era isso que você queria?
Ah, mas nada, minha filha!
Não!, cala a boca, você não sabe o que é a vida
Vai, fala logo, vadia. Fala tudo, logo
Aproveita que eu aturo e gosto de ouvir essa voz chata
Confessa na lata o que tiver pra confessar
Você vai se arrepender, Tainá
De ter me dito tudo isso
Pensa naquele compromisso que a gente firmou na igreja
Quero que você veja o que está fazendo comigo
Porque seu marido só quer seu bem
Até pensei: ano que vem, ter um bebê, quem sabe
Acho que sempre cabe mais um dentro do amor
E, por falar em amor, eu te amo
Tainá, eu te amo mais que minha vida.

Poema I

Andava com meninas
Me chamaram de iiiiih
Eu sorri ...

E disse são meninas, pelo menos

Mudei o cabelo
Me chamaram de iiiiih
Só fingi ...
Que não liguei, mas esperava menos

Meus punhos amoleceram
Me chamaram de iiiiih
Eu saí ...

Da companhia pra um clima ameno

Olhava pros amigos homens
Me chamaram de iiiiih
Eu morri ...

De vergonha de olhares pequenos

Beijei um rapaz
Me chamaram de viado
Fiquei desolado,
Esse rótulo era veneno

Decidi encarar
Me chamaram de outras coisas
Essa foi a ...

Pior resposta que o mundo podia dar

Aceitei o veneno
Me chamaram de fraco
Deram pitaco
E eu não resisti ao fracasso

domingo, 10 de maio de 2015

Peruca


Escuro muito
escuro claro
coberto de vários de si
cada camada menos
cada menos camada
claro se ao cimo subir

Marrom moreno
enquanto sobe
morre de cinza em cinza
não se sustenta
insiste no lume
mas é só brilho da tinta

Só se disfarça
só se engana
esconde uma cor orgulhosa
se exalta em poesia
belo e sublime e
esvoaça em cristais de prosa

A essência da cor
é um caniço novo
aceite que dói mais
mas compensa a dor
o choque a quebra
pra mechas originais

domingo, 26 de abril de 2015

Iceberg,


Não se disfarce de afável
Escondido sob o mar gelado
Em que este comandante
já tentou se afogar

Timoneiro vê de longe o perigo
Sabe que vai se chocar
De marinheiro desabituado, a agonia
Inunda a cabine toda

O leme travou
foi o timão que guia
ou a mão que agarra

Sensação
Se mais perto, mais fria

Que está preparado
esperando
ansioso pelo fim
você diria?

quarta-feira, 22 de abril de 2015

[Pintura] Mundo, fonte de amor


Mais amador ~ou amante?~ impossível. Mas é o primeiro quadro de que tirei foto, então me orgulho haha. Os dois primeiros que pintei se perderam por aí, nem sei se ainda existem.
Tinha uns 13 anos quando participei de um projeto com os Surdos na Escola Estadual Monteiro Lobato. Em um dos quadros figuravam algumas frutas sobre um pano de fundo preto; no outro, um lírio branco-amarelado sobre um verde clarinho (eu acho, já faz tanto tempo). Tem minha assinatura e o ano, 2007, mas como disse, tá aí pelo mundo. Mundo, aliás, retratado na foto acima, do jeito que muitos discordam, mas penso que é.
Fiz os contornos usando lápis preto, depois fiz várias camadas de tinta-a-óleo pra clarear ou escurecer a imagem.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Infância


Paulo
pequeno
pivete
posava
pueril,
pungia
porém

por...


por...



púbis

pornô

pitrica

peitos

...

palpitação

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poema elacêntrico


Polo artístico
sede, sede
ponto de concentração
meca dos meus devaneios
os beijos, delirei
quimera foram as mãos

Seio dela,
sei o da contemplação
eixo de estudo profundo
raciocínio carente
por fascínio do osso
que aguerriu-se
e meditabundo persiste
em inócua reflexão

Ela é núcleo
é cerne do problema
e âmago do pensar
Foco é fogo
Que nunca nos deixa
Nunca nos deixa focar

domingo, 19 de abril de 2015

[Desenho] Grafite & Branco No. 2

Beatriz Salles, 20 anos

Usei das mesmas estratégias que no desenho anterior, fiz as sombras puxando o grafite com a borracha e com o dedo, depois as partes mais claras (reflexos), fiz com a borracha. A pele dela é muito clara, qualquer rabisco mudaria a fisionomia do rosto. Tive problemas nisso.  Não ficou bom como eu queria, mas depois de ter tentado e errado tantas vezes, até que gostei. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Têmpora

Meus olhos corriam por sobre um bom texto de Poe e minha concentração corria por aí; Possivelmente no mundo em que Platão diz estarem as ideias. Talvez nem isso.
Eu usava fones de ouvido, daquele modelo que parece um colar, cujo design dá um toque de turista à roupa do cotidiano. Escutava canções do Zeca Baleiro, como fizera por um mês inteiro, de nome, senão assustadoramente oportuno, pelo menos conveniente, "Nalgum lugar". No rosto, o óculos de grau, que compunha também a cena; lentes redondas em baixo, seguradas pelo nylon, armação preta. Negra como o desmaiar daquele dia.
Uma noite comum, e como em noites comuns, você deve saber, eu transpiro pensamentos. A cabeça - evito lembrar, pois a menor referência à dor parece chamá-lá de volta como num encantamento - sofre como que pela expansão de uma câmara de ar que pediria pra explodir. Eu estava cansado e, se fechasse os olhos, via uns delineamentos cromáticos, brilhando como o sol em um CD.
Toquei minhas têmporas, uma mão em cada lado, como se eu pudesse conter a dor. Pressionei dois dedos em cada mão, em sentidos opostos. Moveram-se os quatro em um movimento síncrono de encontro uns aos outros, apertando nalgum lugar que não pude definir, por três vezes, em intervalos regulares de mais ou menos dois terços de segundo, em adágio, e a música do Baleiro então pausou sequentemente, seguindo o ritmo dos meus dedos; depois disso, a canção seguinte "Quase nada" tocou - nome da qual me fez meticuloso na ocasião. "De você sei quase nada", era o trecho inicial, e se esse pronome de tratamento pode ser referenciador de um fato sinistro, foi fortuito à expressão do que eu sentia.
Um espanto imediato surgiu de não sei onde, e ninguém deve saber, nem mesmo você. Olhei pros lados para conferir quantas pessoas tinham percebido esse acidente descompassado sem me dar conta no primeiro instante de que as circunstâncias não davam razão para aquilo. Os sons que eu ouvia estavam restritos aos meus próprios ouvidos, como já devo te ter feito notar, e ninguém dava a mínima pras vezes em que apertei minha cabeça.
Com medo, mas curioso, apertei repetida e exaustivamente as extremidades ao lado do supercílio das mais diversas maneiras tentando encontrar o lugar certo, o botão, pra suspender a música novamente. Sem efeito excedente à grande inquietação.
Minha reação, que me serviu de escape, foi escrever. O celular estava próximo, o aplicativo em que guardo minhas notas, de fácil acesso; escrevi. Agora compartilho minha curiosidade, e talvez meu terror, com você.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

terça-feira, 14 de abril de 2015

Subnatural


Quem diria que eu, logo eu, estaria nessa situação. Se você está se perguntando quem sou eu, e qual é 'essa situação', é uma pessoa curiosa. Gostaria de começar minha prosa ao te dizer antes de te dar essa informação que a curiosidade é uma característica de pessoas inteligentes. Acrescento que os inteligentes nem sempre dominam o mundo, apesar de conhecê-lo satisfatoriamente. E embora alguns me considerem eminente, outra pessoa me usava para satisfazer alguns de seus caprichos frequentes, ou é isso que às vezes penso. E penso demais. 
Hoje pensando descobri que nem sei como está a gente. Eu sei como eu estou, mas Branca, ela nunca foi legível. E faz questão de não ser. Faz questão de me confundir e de me ver passível de enlouquecer. Domínio; isso com certeza ela tem sobre mim, é visível sobre meus atos e não-atos.
Ontem tive uma noite inesquecível com ela - o afago começou cedo - mas dormi com um pouco de medo e mil possibilidades explodindo como aquele doce que quando passa do dedo pra língua, está mais pra brinquedo, faz som de tiroteio. Todo tiro era uma inquietação nova. É, realmente, incomoda. E muita coisa nauseosa vinha me incomodando de uns tempos pra cá: dores de cabeça, batidas teimosas, gente falando alto e a falta de reciprocidade.
Eu estava determinado, então, a criar um novo tipo de namoramento, um amor unilateral, um amor individual que embora só precise ser dual pra ter o outro como mero alvo de catarse, me faria feliz.
Um amor que me levaria à plenitude somente por ter alguém de quem cuide, pra quem o direcionasse e que excluísse a necessidade de ser amado, ou até mesmo de ter um reconhecimento mínimo - nada mais justo - por parte do outro lado. Mas justiça não existia quando percebi que um amor platônico seu lugar tinha tomado. Percebi errado - a quem agradeço por isso? -, não era o amor dA República. Era só insegurança. Insegurança, vê se pode. Era insegurança dela e eu achava que nunca ia ser amado. E já tinha me contentado, porque minha personalidade é dessas, de ter tudo aceitado. Mas ela deixou escapar que em um dos lados da sua volatilidade é possível que tudo seja recíproco. Estou acomodado.
Acho que falei demais. E tenho certeza, mudei de opinião, não vou mais dizer quem sou. O bom é que você já sabe da situação... ou não.
Se você leu até aqui, é uma pessoa curiosa. Por isso, vamos curiar juntos. Vou soltar mais uma pulga, quem sabe ela não gruda atrás da sua orelha. Imagina só quantas pessoas iriam aderir a essa moda em potencial se eu não tivesse me enganado e, portanto, tido tempo, disposição e mágoas suficientes pra criar esse amor de que falei, subnatural.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

[Desenho] Grafite & Branco

Aércio Neto, 4 anos
Esse é meu primo, todos o chamam de Neto. É um garoto sapeca que adora figuras de ação.
Fiz esse desenho há um tempinho atrás, gostei de como as sombras do rosto delinearam bem as feições dele. O sorriso torto, sem graça, completado com o nariz de bolinha.
Usei um lápis 6B e fiz alguns reflexos com a borracha.

domingo, 12 de abril de 2015

Entrevista para o Reverbera - Todas as Quebras, com Marcelino Freire

Fiquei lisonjeado por ter meu nome publicado com o título de escritor; porém fiquei ainda mais por estar junto ao nome de uma poeta que bem admiro, Eli Macuxi, cujo blog - Eli Macuxi Poesia Pura - me prende e não quer me deixar sair.
Marcelino nos entrevistou por alguns minutos, dá uma olhada:


À ponta da língua


Há outra vogal ao lado, mas
jamais nos separaremos

entre os consoantes
ditongo crescente
de vínculo obstinado
nos sustentaremos

Seja meu adjunto

sintagma completo
sozinho sou pouquidade
quero ser atividade
por enquanto sou só verbo
só constituinte de assunto

Conjugaremos amar

nos tempos verbais
universais 
nos dias crástinos
dias vistos
Mais-que-perfeito sentido

Amor transitivo direto

daí decerto mediação nenhuma
entre mim e ti
nem pré-posição de alerta
ou pós-posição objeta
à meta de se fundir

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Passava

Nas faixas de pedestre
desse estado
parava moto, parava carro,
hoje só para fuso
passava gente velha
e nova em uso
até bicho passava
pro outro lado
em cima das cores preto e pardo

Não que sejamos educados
nem os melhores motoristas
às vezes nós fazemos vista
grossa pra quem teria passado
na frente, se a gente tivesse deixado
mas na faixa, desatenção é pecado
mesmo que depois
de ter dormido muito
E ter saído
em tempo curto,
absurdamente apertado
O limite da faixa, aqui,
ele já foi sagrado.


Obs.: Poema feito como exercício na oficina de que falei no último post, no qual precisaria falar de minha cidade.

Oi!


Gostei do título da postagem, me ajudou a começar a ~tentar~ dizer algumas mudanças em mim, como escritor, e no blog, como Mediocridades do autor, pra quem me lê.
Ontem e hoje participei da oficina de Criação Literária do projeto Quebras. No primeiro dia, saí maravilhado, no segundo, em êxtase. Senti que eu deveria parar de pensar no blog como "depósito de poemas", nas palavras do escritor Marcelino Freire, o mediador das discussões e inspirador de alma inquieta.
Agora digo que perdi a vergonha. De escrever, de publicar, de compartilhar o que penso e o que faço. As postagens, daqui pra frente, não serão apenas poemas, mas também desenhos, pinturas, composições, e o que mais minha inquietação mandar.
Quero que conheçam mais de mim como alguém que admira a arte de um jeito particular, com uma visão do mundo e de quem vive nele que talvez valha a pena.
De poemas apaixonados (ou melosos rs) a críticas ferrenhas, postarei tudo. Tá decidido.

Gostaria também de, a partir desse "Oi!", conhecer meus leitores, ou pelo menos saber quem são. Então, escreve aí embaixo, ou manda um Tweet, uma mensagem no email, pra eu saber se você lê com frequência, se só passou e não gostou, se quer mais...

Espero postar muito mais produções, então, apareça sempre aí :)

O primeiro dessas que vêm já chegou. Tá no próximo post!

domingo, 5 de abril de 2015

O pó e o vento

Se o amor decidir caminhar
em uma direção apenas,
há penas que se observar
Condena-se o pó do universo
Ao perverso frio que ali há

Aliar a brisa ao infinito:
É visto assim o azedume
No gume afiado do olhar
Do pó que não tem mais receio
Do esteio correntes-de-ar

Aventura é correr no céu
Pisar só no alento criado
Vácuo que sustenta a loucura
Muito dura, mas não pra sempre
Mente o pó se disser que aguente

Mas diz sim, o pobre pó, ente
Do cosmos, amigo do vento
Acento no sopro da vida
Esquecida sempre que lembra
O pó de ser feliz; - emenda:

"Aqui está uma revogação
Quão útil, quão pura e quão sã
Bah!, jamais é que saberei
Onde se lê não quero amar
Leia-se me apaixonei"

domingo, 29 de março de 2015

O banho

Felicidade em apuros
Mergulho pra longe do pranto
De molho, molho em mim tudo
O sentimento é de escuro
Debaixo de um Rio que é Branco

No fundo essa grande serpente
Se arrasta e faz som de medo
Arrasta com ela até gente
Pra fotos e quadros, poentes
Que invadem muito mais que textos

As águas transpassam minha carne
Como os prótons de um Raio-X
Impresso no preto, um decalque
Vejo pedaços de alma lavada e
branca como um chão de giz.

Me pergunto se o que de mim levam
Essas tênues e vis correntezas
Fica tudo pelo caminho e secam
Ou mais embaixo no rio, uns pegam
Minhas dores, amores e brejas

sexta-feira, 20 de março de 2015

Queria amar de pouquinho

Rio daquele cuja súplica antiga
Era pra sua vida uma paixão em
Temperatura alta que além de capaz
De impulsionar com a propulsão
Feroz dos combustíveis
Que levam à lua
Distancia do chão
Em proporções surreais
Veloz de dar mais medo
Em quem tá vendo de longe
Que em quem tá vivendo de perto.

Ele só queria amar de pouquinho
Em pouquinho se perdeu pro vício
Na dopamina que vem do abraço dela
É bela, mas de amá-lá, o ofício
É o mais árduo
É pesado sustentar-se neutro
Todo vício tem seu custo
O deste - puto! - são os mesmos:
Atenção e desejo direcionados
Necessitados todos de ela

A saudade se torna rainha
Da - coitadinha - consciência
Mão de ferro, não tem piedade
Nem tem pena, nem tem dó
Quando julga, quebra as pernas
Mata Jó de impaciência
E o velho de Hemingway volta
Vara torta, sem resposta
Do mar

É triste, por isso
Essa é uma piada daquelas
Amarelas que só quem conta ri
Uma brincadeira de tão mal gosto
Que nem gosto de falar disso.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Um poema meloso


Tenho vontade de chamar-te, amor
Para saber que vou chamar-te amor
Antes que eu te assuste ou te afaste
Ou fique mais bobo que a imagem que tens de
mim
E me mate

Não me amedronta a bobagem, dê-me trela
O que me põe medo é a sua reação a ela.
Justifico: meu ritmo é diferente
Demoro todo o tempo que não passa
balançando cabeça e pés
Em músicas quentes
Mas movo cadeiras, salões invado
Se o mundo à minha volta é desacelerado
E me deixo embalar sem preocupação
Pela melodia da calma, envergonhada e
gostosa...
Canção
Que me cantou lenta e sorrateiramente
Silenciosa e clandestina, mente
Pras cordas do meu violão
Eu sigo a partitura submisso
Esperando pelo momento de improvisar
Mas preparando a improvisação.

domingo, 8 de março de 2015

O clichê

Penso em vários, toda hora
é hora de pensar no clichê
que em português é famoso
pelo cantar pomposo do Djavan

E quando, súbito, me usa como
instrumento anomo de sopro pra se libertar,
o clichê quer falar muito mais alto
do que tímpanos fracos podem suportar

Eu - nem acredito - respingo
no chão, na parede, nos móveis, no teto,
com um resquício inquieto de culpas
passadas, irresolutas, mas não mortas
Jamais mortas! Porque
Pesa mais o clichê do que a gravidade
duma situação de verdade em que eu
pro mundo e pra Deus falo o que penso
Intenso. O mundo me olha
dos pés a "enlouqueça!"
que o sonho feneça, se o clichê não for
pro pensador a mais cruel das verdades.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

A Gente Deixa Arrefecer

Não foi expulsa de escolas, mas de corações;
Arrumou briga consigo mesma, não com valentões.
Levou a vida louca de poucos por seguir loucos e vis padrões.
Empurrou à própria garganta sérias desilusões.

Cozinha tudo em fogo baixo porque tem medo de queimar
Mas deixa tudo cru; e antes de terminar
O período de esquentar o frio que entre as pessoas há
Sai caminhando alegre rumo a uma mesa de bar.

Depois vai deitar sem sono no colchão do esquecimento
Pra ver se alguém sai dos escuros caminhos barrentos
Que a mente traz de volta como um trágico minuendo
Que é resposta ao torpor de um amor em crescendo.

De amor por mitose, uma dose, por favor.

Amor por mitose
Não existe em Boa Vista,
Não há gente que insista
Só procuram por quem goze.

Amor por mitose
É raríssimo de achar
Mas um há de procurar
Ouso até dizer que goste

Amor por mitose
As pessoas o confundem
Com paixão de Hollywood em
Frações de menor porte

Amor por mitose
Divisão equacional
Da consciência invernal
Dos Joões que a vida cose.

De amor por mitose
Já tem vários desistindo
Estão felizes, lá, bulindo
O amor por meiose.

Ímpar

Finalmente escrevo como se deve escrever
Meu corpo é bainha para a espada que te lembra
Envolto na febre que gradualmente desmembra
A parte da lenda sobre esperanças do ter

Há mais sofrimento, é certo à la vento
E o peso anseia tolo por solidão
Quer tudo ter sem escrúpulos, mas são
E incomoda ao ser só por um momento

Amar é pífio se o amor é líquido
E se eu estiver quente demais
A par de evaporar os insípidos
Sabores de uma razão que jaz

Sob um espesso assoalho de paz
Através do qual ouço ruídos
De outro coração batendo; mais
Repetidamente que estribilhos

Chatos de canção famosa
Fracos com fome de prosa
Bárbaros de mão à mostra
Salvos de ir à pia rosa.

Ah, doce mentira
Que conto pro texto,
Pode algum cabresto
Apagar as frias

Condições
De viver
Pra valer
Sem sanções?

Sem
Dor
Sou
Bem

Com
Dor
Sou
Bom

O culto interrompido

Te escrevi poemas que se mesclaram a aventuras.
Te pensei, à beira; em meio amor deduras.
E atrapalhas meu culto à tranquilidade;
Jogaste em meu mundo de comodidade
Oxigênio em forma de dúvida


Pensava três vezes antes de agir
Acabava aliviado por não decidir
Deixava o acaso fazê-lo por em
Quanto que o tempo escorria pr'além
De um chão que deixou de existir


Em figura, momentos que de mim roubara
Folgados se mostram, se exibem na cara
Mania de do real te subtrair
E o saldo atual, m'amiga, contínuo a ruir
Dentre as de outros, a minha casca.

A música que ela é

Ela pintara esse sorriso bobo
na casca do ovo que ele diz que é
O engana o mané com promíscuas manias
E a certeza, a euforia mastiga com fé

Ao controle, um deles se obriga
O outro sabe, não liga; ele já se tocou
Quem dá 'oi' geralmente é quem chega
Quiçá a incerteza nem disso lembrou

O contrato diz "nada de laços"
Tal como os compassos da música ruim
Que compôs o aspirante a canalha
Já intitulada "Beleza em marfim"

O som calmo e agudo da flauta
E a paciência da gaita já foram dormir
'gora aqui toca um blues tão sonoro
Da parte do solo não quer mais sair.

Certo como a criação divina

Vejo o amor que tenho por ti em tudo que Deus criou
E é como o futuro, como o voto seguro
É como o belo e o feio, o preço de um veraneio
É como ciência e religião, como o conforto de um colchão

Será que vejo o amor que tenho por ti em tudo que Deus criou?
Parece o dinheiro que se há de ganhar, e o valor dos livros em que se pensa comprar
Parece com a estúpida fala e com a desnorteada bala
Com o acaso e com a sorte, e com a vida, mas não com a morte

Não vejo o amor que tenho por ti em tudo que Deus criou
É similar às teorias, às teses, às tentativas e à exegese
Ao tamanho do multi ou do universo, e aos assuntos que se julgam desconexos
E às premissas, e às respostas, e às missas e ofertas postas.

Deus criou tudo em que vejo amor por ti?
Lembra o tempo que vai levar pra alguém se embriagar
E pra, depois disso, dormir e se levantar pro serviço
E lembra, além de tudo, como é te ver e conseguir ficar mudo.

Quereres

Quer trocar bibliografias.
Quer ouvir discografias.
Quer tirar fotografias.
Quer fazer pornografias.

Quer ser d'outrem outra vez
Quer um elogio cortês
Quer chamar-se insensatez
Quer bastar-se a tudo, eu sei.

Quer sair da linha estrita
Quer voar por sobre a pista
Quer pra si a melhor vista
Quer a alíquota da vida.

Quer saber se tudo é tudo.
Quer olhar por entre o muro
Quer fugir sem ter seguro
Quer criar novos futuros.

Salgue o sarau!

Que tal um pouco de sal

no sarau

Pr'aquele que precisa de alma

Por estar em estado terminal

Sendo corroído e construído

Ao tempo que a vida sem manha

O apanha

E o priva ou da cobra ou da aranha

Temendo o vermelho

Calculando o azul

Recorrendo a entidades divinas

Recuperando feridas paulatinas.

Sonhar pra quê?

Sonhar pra quê, se eu já te tenho
Se todo dia à tona venho
E a alegria eu desenho
Dentro do meu peito?!

Com um sorriso à mostra
Um bater na porta
Duas peças tortas
Se unem num belo beijo.

Presos por um nó
Dando beijos de esquimó
Dentre os sentimentos, dó
Dos que nos olham desse jeito.

Quero te mostrar meu eu
Te dar o que já é teu
Tentar ser o seu Romeu
Nesse par perfeito.