quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Poema V

Se te conheço
Que última vez nos vimos?
Que dia saímos para beber uma cerveja de litro
E falar de personagens bem-amados 
Do livro que terminou?

Longe. Long ago.

Mas a lembrança que guardam de mim,
Esta é generosa, é alegre, é amiga
Ainda bem que o que vale nessa vida
É como se lembram de nós,
Porque quem comigo congrega
Acaba que me despreza
E vê não existir perfeito.
Aliás, mais-que-imperfeito 
É o verbo que eu seria.

Verbo. Porque atos, mesmo, não há.
Mas há um bocado de sensação
Da boa e da melhor.

Em perfeição não acredito 
E meu segredo obscuro e
Desconhecido
É não permanecer.

Quem muito fica, pouco se movimenta.
E eis que se acostumam com as pequenas tormentas
Que causo a um mornento lugar.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Resenha de A Maçã Envenenada, de Michel Laub


Olá, pessoal que acompanha o Leve Mediocridade. Li esse livro pela primeira vez durante a disciplina de O Romance Brasileiro & A Arte da Tradução do programa de pós graduação da University of Arkansas e agora o reli. Como deu vontade de falar o que eu percebi, compartilho com vocês esta medíocre resenha. Vamos lá.

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Estamos sujeitos à mesma crise, contínua e estendida, pela qual passa o narrador. O suicídio e suas notícias tornam-se cada vez mais presentes, aproximando-se por vários meios. Temos acesso em A Maçã Envenenadatrês fios narrativos e é interessante como as perguntas não respondidas em cada um deles parecem deixar uma mensagem sobre o problema: uma positiva, uma negativa e uma neutra. E a esse emaranhado de opiniões que não são dadas, mas apenas sugeridas, o leitor é quem precisa dar sentido. Se quiser. 

Os questionamentos do protagonista nos envolvem até o pescoço. O tom confessional com que o narrador relata seu romance com Valéria nos faz mais empáticos e nos arrasta para a sua dúvida. Durante a leitura, fazia para mim mesmo perguntas que não deveriam ser minhas. E isso se dá porque a história do narrador-personagem se mescla às histórias das pessoas famosas elencadas no livro, o artista Kurt Cobain e a escritora Immaculée Iligabiza, para nos oferecer pontos de vista conflitantes, mas validados em si mesmos. O contraste entre o que é e o que poderia ter sido também é muito presente.

Nunca tentei suicídio e nunca presenciei uma tentativa, mas o texto me abalou mesmo assim. Sem julgamentos ou comentários tendenciosos, o narrador trata dessa questão da maneira mais direta que as circunstâncias permitem. Um leitor que já tenha passado por isso terá muito com o que se identificar. Além disso, mostra-se também a perspectiva de alguém que esteve à beira de se considerar culpado pela tentativa do outro de tirar a própria vida.

Olhando por um lado mais técnico: por vezes, o narrador parece interrogar o leitor. Em diversos trechos, como "Você sabia que terminaria assim, não é mesmo?" senti que ao mesmo tempo em que o personagem endereça sua fala a outro personagem, o narrador fala com quem o lê. Nesses momentos, o plano a partir do qual o narrador fala se torna confuso, mas isso é interessantíssimo: a ambiguidade dos trechos o aproxima de nós enquanto o ritmo acelerado da narrativa se mantém constante.

4 estrelas pelas repetições (talvez necessárias, mas de que não gosto muito). Feitas em um tempo de narração psicológico, não-linear, podem causar estranhamento. No geral, ótimo livro. Recomendo àqueles que gostam de tramas psicológicas, de complexidade e de reflexão.

quarta-feira, 1 de maio de 2019

Na constante competição comigo
Bati recorde em nova modalidade:
7 dias de choro noturno.
Verdade.

Longe de ser vencedor
Pois há muitos de choro contínuo
Dessa vez, decidi ir curtindo
Vou chorando assim sem pretensões

Se tiver que ser, serei
Dos mais chorões de todas as noites
Sei que um dia até o olho mais triste 
secará como rio que não resiste
Ao tempo, 
que num instante mata e salva.

Com sorte, alcanço o pódio
E assim venço na vida
Com a força de vontade
Ou a força do ódio

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Tradução

"Tangled vines", por mikeway1218 no DeviantArt.

Você me engana,
Me faz passar vergonha
Me dá trabalho pra caramba
E me toma horas pra te aprender
Você me esquece
Por dias não chama
Sem e-mail ou telegrama
Desaparece total
E em desespero,
Olho pro meu dinheiro
E penso, "volta!
Não precisa ser tão revoltada
Não caminhe pra longe da estrada
Que eu mal comecei a pegar."

Mas não é de todo mal
Quando está comigo
Me sinto fora de perigo
E a noite passa depressa
Não vejo o tempo passar
Até que você avisa
Que está na hora de te entregar
Para qualquer outras mãos
Que não te merecem
Tanto quanto as minhas.

E o tanto que você me envolve
Quando faz sol ou chove,
Fico com os olhos vermelhos
De tanto te admirar
Falando dessas coisas técnicas
Que algumas vezes nem entendo
Mas repito em minhas palavras
Sempre perguntando
Nem sempre tendo respostas;
Mas, ah, quando me conta histórias
Quando me comove ou me angustia
Com um poema 
ou narrativa que seja
Ganho olhos de igreja
Prontos pra te adorar.