quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Retalhos

Mário joga retalhos de sentimentos
Num pano de guardar confetes
Ou os embrulha em papel de presente
(O enfeite é pintado em blue decrescente.
É um degradê que oferece a outro alguém).

Coitado.

Sabe bem que os retalhos não surgem do nada.
É claro que os corta do rabo da saia
Que o passado vestiu
E ele aplaudiu de pé.

Mas (sempre o mas!)
Estuda na rua o porquê da paixão
Um flaneur sem imaginação
que vagabundeia vigiando o interpretar
de suas ofertas de sentimentos retalhados.

domingo, 6 de setembro de 2015

Um espelho esbafejado

Um espelho esbafejado.
Um olhar impulsivo
vê gotas de feiúra e falência
sobre um rosto borrado refletido.
Declaro o espelho culpado
pelo crime de ter distorcido
nossas visões de nós mesmos.
Criminoso! É um grande perigo
deixar-nos seduzir.

Mesmo depois de ser limpo,
ainda existem imperfeições.
O rosto sem borrões já pode ser visto.
É uma face de rugas arrogantes
que tornam o rosto impressivo
(Rugas cuja existência é digna e dignificadora,
mas que de ler não sou digno)
Tento ler nelas o nome da rosa
e, porventura, consigo.
Quanto à dificuldade, não se preocupe
- é uma aventura e um risco
que tive o prazer de passar.
As rugas que mais valem a pena ter tido,
mais que as do choro que me constrói,
são as rugas do sorriso.