segunda-feira, 30 de março de 2020

Despedida - Yale - New Haven, Connecticut.

Chegamos a mais um refúgio dentro de um refugio
Que nos acolhe acadêmico e imponente
Grandes personalidades nos derramam grandeza
As desilusões escorrem do corpo ao chão
E os amigos de todos os Brasis 
Nos enxáguam com sua apreciação.

É de modo saudoso e questionativo
Que vejo o vídeo das minhas saudades.
Com recursos bem-sucedidos  
Praticamos amizade oral e escrita.

Yale nos alimentou de comida e recados:
Com o poder do conhecimento aplicado,
Não somos pequenos,
Estamos em eterna fase de crescimento.

À frente, vidas múltiplas
De escrita, política, música,
Literatura, experiência e línguas
E sentimentos quase brasilianistas
Maiores que o livro didático.

Sem medo do Lobo Mau
Que nem aparece na história
Vamos descobrindo a pragmática boa memória
Que temos de pertencer,
E de abraços que nunca serão
tão apertados como poderiam ser.

Me assusta a descrença da falta de espera
Pois quem me dera saber o dia
Em que os choros da despedida
Serão as lágrimas do encontro

Vou direto ao ponto e digo: 
Nenhuma conferência, longe ou perto
Terá o sabor de afeto das três
Que reuniram os melhores FLTAs.
*Poema escrito em 2019 pouco antes da minha volta ao Brasil, depois do programa FLTA.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Progresso

Evoluídos
Em guerra
 
Nos acertou a flecha de chumbo do cupido 
E a de ouro, a terra.

Enquanto os atrasados
Os cultivadores da estagnação
Os destinados a sumir
Cuidam
E mantêm, naturalmente,
A natureza,
O evoluído diz tomar conta da beleza,
Que é sua propriedade.
 
 
 
 
 
 
 
 
*Escrito em visita ao museu Crystal Bridges, no estado do Arkansas, EUA, onde encontrei obras severas que abordam o escorraçante processo de colonização do país.

segunda-feira, 23 de março de 2020

Costume

A aeromoça,
De tanto olhar para virilhas
Não se excita mais com elas
Prefere as costas

De tanto ver decotes,
Prefere os bumbuns
E de tanto ver sorrisos,
Acha que a curva mais bonita 
É uma bela de uma história triste

quinta-feira, 19 de março de 2020

Versículo

Se teu olho direito
Não te faz guardar o belo
Arranca-o fora
Talvez com um só olho
Tua atenção tenha o esmero
De salvar este mundo na memória.

Biografia

Nasci no ensino médio
É o que se vê
Técnico
Como os trabalhadores mais respeitados

Ah, tanta experiência
Muitas horas, muitas horas
Meus nomes são outros agora:
Refiz para crescer com eles
Mas são menores
E quem se importa?
Não se encontram mesmo em meio a tantos

E numa busca pelo verde dos meus anos
Entre os galhos secos daqueles feitos
É preciso marcar letras garrafais
Nos caules longos com o mínimo de vida

Das lembranças sublimes da infância
Não há página que se imprima

Triturei meus amigos 
Meus chinelos desritmados
Meus amores fantasiados e tristes
Meus jogos de computador
Companheiros de papel pintado
E mágoas que mordem as paredes da minha boca

Amasso minhas impressões cheias de erros
E as coloco numa lixeira para incinerar
Como se as manchas de tinta fresca
Não contassem as histórias do que serei

Tantas árvores jogadas ao chão
Para agradar aos caprichos do meu ego 
A biografia se resume ao Lattes
E a expandi-la me entrego

quarta-feira, 18 de março de 2020

Atleta

Dois mil e vinte anos
depois do teórico
e ainda não aprenderam
a amar o próximo.

Eu, que sou professor,
pesquisador
(e também poeta)
pretendia ensinar sobre a queda,
o pé e a pedra,
e também a moça
Mas sei que não controlo
Nem meus próprios passos
Não posso ensinar a amar.

Eu, como poeta
Me saio um exímio atleta
Vencedor dos quinhentos sonhos rasos.
 
 
 

segunda-feira, 16 de março de 2020

A hora do ouro

Para e aproveita 
tua hora diária de paraíso
Cinco e quinze e os sorrisos já vão chegar!

A riqueza dos céus em Boa Vista desce
Por uma hora inteira cresce o resfolegar

Sombras deitadas te dizem "passa!
que nos rendemos de graça à tua saúde e paz."
Mas a hora do ouro, como a felicidade,
é prazerosa, porém fugaz.
Exceto quando as nuvens proíbem,
Podes buscá-la todas as tardes.
Diz ao patrão que estás cansado
E vai lá fora ver bem legíveis
As belas cartas do mundo para nós
E suas mensagens de cuidado:

As ruas brilhantes nos guiam a salvo
Se em casa até seis e vinte chegarmos.
Banhadas a ouro, as folhas nas árvores
Dançam como lantejoulas enfeitando a cidade

Por Fernando em https://picsart.com/i/image-when-your-heart-is-in-a-bad-place-cold-sad-heart-308808480189201

Para o caseiro que sou,
Estranha não ser bom voltar para casa
Mas choro não há:
A água que me mantém vaza
Para longe, onde há muitos rios.

Desidratado, eu seco
Mesmo esponjoso

Meus olhos excomungados
Vagam pelos teus vestígios
E o escuro desconhecido me desabriga:
O que era para ser lar nem casa mais é.
Faço questão de ver um albergue 
Abrigo temporário de alguns maus
Mas não do frio da saudade

Levaste qualquer coisa que faz destas paredes uma casa
Levaste o aquecimento,
Porque me engole o frio da saudade
Que cobre a minha cama
E não quer largar do meu colchão.
Levaste os travesseiros
E os pedaços de algodão aqui debaixo
não confortam meu pescoço duro,
A cabeça não tem mais seu palanque
E pesa sobre o que quer que a tente suportar.

Levaste todos os bons aromas
Não há incenso, bolinhas de cheiro
Bom ar de abóbora ou perfume
Que expulse o desconforto dos meus narizes 
com o azedume da tua falta
07/02/2020

Dói

Se outras palavras cortam
A tua remedia:
Me sutura
Ou cauteriza.

PROBLEMA MATEMÁTICO

Sete e dez da manhã 
No ônibus que leva ao trabalho
Há dez minutos, você com frio. 
Calcule a probabilidade 
De encontrar na sua cidade
Pai e filho banhando de rio.