domingo, 26 de abril de 2015

Iceberg,


Não se disfarce de afável
Escondido sob o mar gelado
Em que este comandante
já tentou se afogar

Timoneiro vê de longe o perigo
Sabe que vai se chocar
De marinheiro desabituado, a agonia
Inunda a cabine toda

O leme travou
foi o timão que guia
ou a mão que agarra

Sensação
Se mais perto, mais fria

Que está preparado
esperando
ansioso pelo fim
você diria?

quarta-feira, 22 de abril de 2015

[Pintura] Mundo, fonte de amor


Mais amador ~ou amante?~ impossível. Mas é o primeiro quadro de que tirei foto, então me orgulho haha. Os dois primeiros que pintei se perderam por aí, nem sei se ainda existem.
Tinha uns 13 anos quando participei de um projeto com os Surdos na Escola Estadual Monteiro Lobato. Em um dos quadros figuravam algumas frutas sobre um pano de fundo preto; no outro, um lírio branco-amarelado sobre um verde clarinho (eu acho, já faz tanto tempo). Tem minha assinatura e o ano, 2007, mas como disse, tá aí pelo mundo. Mundo, aliás, retratado na foto acima, do jeito que muitos discordam, mas penso que é.
Fiz os contornos usando lápis preto, depois fiz várias camadas de tinta-a-óleo pra clarear ou escurecer a imagem.

terça-feira, 21 de abril de 2015

Infância


Paulo
pequeno
pivete
posava
pueril,
pungia
porém

por...


por...



púbis

pornô

pitrica

peitos

...

palpitação

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Poema elacêntrico


Polo artístico
sede, sede
ponto de concentração
meca dos meus devaneios
os beijos, delirei
quimera foram as mãos

Seio dela,
sei o da contemplação
eixo de estudo profundo
raciocínio carente
por fascínio do osso
que aguerriu-se
e meditabundo persiste
em inócua reflexão

Ela é núcleo
é cerne do problema
e âmago do pensar
Foco é fogo
Que nunca nos deixa
Nunca nos deixa focar

domingo, 19 de abril de 2015

[Desenho] Grafite & Branco No. 2

Beatriz Salles, 20 anos

Usei das mesmas estratégias que no desenho anterior, fiz as sombras puxando o grafite com a borracha e com o dedo, depois as partes mais claras (reflexos), fiz com a borracha. A pele dela é muito clara, qualquer rabisco mudaria a fisionomia do rosto. Tive problemas nisso.  Não ficou bom como eu queria, mas depois de ter tentado e errado tantas vezes, até que gostei. 

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Têmpora

Meus olhos corriam por sobre um bom texto de Poe e minha concentração corria por aí; Possivelmente no mundo em que Platão diz estarem as ideias. Talvez nem isso.
Eu usava fones de ouvido, daquele modelo que parece um colar, cujo design dá um toque de turista à roupa do cotidiano. Escutava canções do Zeca Baleiro, como fizera por um mês inteiro, de nome, senão assustadoramente oportuno, pelo menos conveniente, "Nalgum lugar". No rosto, o óculos de grau, que compunha também a cena; lentes redondas em baixo, seguradas pelo nylon, armação preta. Negra como o desmaiar daquele dia.
Uma noite comum, e como em noites comuns, você deve saber, eu transpiro pensamentos. A cabeça - evito lembrar, pois a menor referência à dor parece chamá-lá de volta como num encantamento - sofre como que pela expansão de uma câmara de ar que pediria pra explodir. Eu estava cansado e, se fechasse os olhos, via uns delineamentos cromáticos, brilhando como o sol em um CD.
Toquei minhas têmporas, uma mão em cada lado, como se eu pudesse conter a dor. Pressionei dois dedos em cada mão, em sentidos opostos. Moveram-se os quatro em um movimento síncrono de encontro uns aos outros, apertando nalgum lugar que não pude definir, por três vezes, em intervalos regulares de mais ou menos dois terços de segundo, em adágio, e a música do Baleiro então pausou sequentemente, seguindo o ritmo dos meus dedos; depois disso, a canção seguinte "Quase nada" tocou - nome da qual me fez meticuloso na ocasião. "De você sei quase nada", era o trecho inicial, e se esse pronome de tratamento pode ser referenciador de um fato sinistro, foi fortuito à expressão do que eu sentia.
Um espanto imediato surgiu de não sei onde, e ninguém deve saber, nem mesmo você. Olhei pros lados para conferir quantas pessoas tinham percebido esse acidente descompassado sem me dar conta no primeiro instante de que as circunstâncias não davam razão para aquilo. Os sons que eu ouvia estavam restritos aos meus próprios ouvidos, como já devo te ter feito notar, e ninguém dava a mínima pras vezes em que apertei minha cabeça.
Com medo, mas curioso, apertei repetida e exaustivamente as extremidades ao lado do supercílio das mais diversas maneiras tentando encontrar o lugar certo, o botão, pra suspender a música novamente. Sem efeito excedente à grande inquietação.
Minha reação, que me serviu de escape, foi escrever. O celular estava próximo, o aplicativo em que guardo minhas notas, de fácil acesso; escrevi. Agora compartilho minha curiosidade, e talvez meu terror, com você.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Subnatural


Quem diria que eu, logo eu, estaria nessa situação. Se você está se perguntando quem sou eu, e qual é 'essa situação', é uma pessoa curiosa. Gostaria de começar minha prosa ao te dizer antes de te dar essa informação que a curiosidade é uma característica de pessoas inteligentes. Acrescento que os inteligentes nem sempre dominam o mundo, apesar de conhecê-lo satisfatoriamente. E embora alguns me considerem eminente, outra pessoa me usava para satisfazer alguns de seus caprichos frequentes, ou é isso que às vezes penso. E penso demais. 
Hoje pensando descobri que nem sei como está a gente. Eu sei como eu estou, mas Branca, ela nunca foi legível. E faz questão de não ser. Faz questão de me confundir e de me ver passível de enlouquecer. Domínio; isso com certeza ela tem sobre mim, é visível sobre meus atos e não-atos.
Ontem tive uma noite inesquecível com ela - o afago começou cedo - mas dormi com um pouco de medo e mil possibilidades explodindo como aquele doce que quando passa do dedo pra língua, está mais pra brinquedo, faz som de tiroteio. Todo tiro era uma inquietação nova. É, realmente, incomoda. E muita coisa nauseosa vinha me incomodando de uns tempos pra cá: dores de cabeça, batidas teimosas, gente falando alto e a falta de reciprocidade.
Eu estava determinado, então, a criar um novo tipo de namoramento, um amor unilateral, um amor individual que embora só precise ser dual pra ter o outro como mero alvo de catarse, me faria feliz.
Um amor que me levaria à plenitude somente por ter alguém de quem cuide, pra quem o direcionasse e que excluísse a necessidade de ser amado, ou até mesmo de ter um reconhecimento mínimo - nada mais justo - por parte do outro lado. Mas justiça não existia quando percebi que um amor platônico seu lugar tinha tomado. Percebi errado - a quem agradeço por isso? -, não era o amor dA República. Era só insegurança. Insegurança, vê se pode. Era insegurança dela e eu achava que nunca ia ser amado. E já tinha me contentado, porque minha personalidade é dessas, de ter tudo aceitado. Mas ela deixou escapar que em um dos lados da sua volatilidade é possível que tudo seja recíproco. Estou acomodado.
Acho que falei demais. E tenho certeza, mudei de opinião, não vou mais dizer quem sou. O bom é que você já sabe da situação... ou não.
Se você leu até aqui, é uma pessoa curiosa. Por isso, vamos curiar juntos. Vou soltar mais uma pulga, quem sabe ela não gruda atrás da sua orelha. Imagina só quantas pessoas iriam aderir a essa moda em potencial se eu não tivesse me enganado e, portanto, tido tempo, disposição e mágoas suficientes pra criar esse amor de que falei, subnatural.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

[Desenho] Grafite & Branco

Aércio Neto, 4 anos
Esse é meu primo, todos o chamam de Neto. É um garoto sapeca que adora figuras de ação.
Fiz esse desenho há um tempinho atrás, gostei de como as sombras do rosto delinearam bem as feições dele. O sorriso torto, sem graça, completado com o nariz de bolinha.
Usei um lápis 6B e fiz alguns reflexos com a borracha.

domingo, 12 de abril de 2015

Entrevista para o Reverbera - Todas as Quebras, com Marcelino Freire

Fiquei lisonjeado por ter meu nome publicado com o título de escritor; porém fiquei ainda mais por estar junto ao nome de uma poeta que bem admiro, Eli Macuxi, cujo blog - Eli Macuxi Poesia Pura - me prende e não quer me deixar sair.
Marcelino nos entrevistou por alguns minutos, dá uma olhada:


À ponta da língua


Há outra vogal ao lado, mas
jamais nos separaremos

entre os consoantes
ditongo crescente
de vínculo obstinado
nos sustentaremos

Seja meu adjunto

sintagma completo
sozinho sou pouquidade
quero ser atividade
por enquanto sou só verbo
só constituinte de assunto

Conjugaremos amar

nos tempos verbais
universais 
nos dias crástinos
dias vistos
Mais-que-perfeito sentido

Amor transitivo direto

daí decerto mediação nenhuma
entre mim e ti
nem pré-posição de alerta
ou pós-posição objeta
à meta de se fundir

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Passava

Nas faixas de pedestre
desse estado
parava moto, parava carro,
hoje só para fuso
passava gente velha
e nova em uso
até bicho passava
pro outro lado
em cima das cores preto e pardo

Não que sejamos educados
nem os melhores motoristas
às vezes nós fazemos vista
grossa pra quem teria passado
na frente, se a gente tivesse deixado
mas na faixa, desatenção é pecado
mesmo que depois
de ter dormido muito
E ter saído
em tempo curto,
absurdamente apertado
O limite da faixa, aqui,
ele já foi sagrado.


Obs.: Poema feito como exercício na oficina de que falei no último post, no qual precisaria falar de minha cidade.

Oi!


Gostei do título da postagem, me ajudou a começar a ~tentar~ dizer algumas mudanças em mim, como escritor, e no blog, como Mediocridades do autor, pra quem me lê.
Ontem e hoje participei da oficina de Criação Literária do projeto Quebras. No primeiro dia, saí maravilhado, no segundo, em êxtase. Senti que eu deveria parar de pensar no blog como "depósito de poemas", nas palavras do escritor Marcelino Freire, o mediador das discussões e inspirador de alma inquieta.
Agora digo que perdi a vergonha. De escrever, de publicar, de compartilhar o que penso e o que faço. As postagens, daqui pra frente, não serão apenas poemas, mas também desenhos, pinturas, composições, e o que mais minha inquietação mandar.
Quero que conheçam mais de mim como alguém que admira a arte de um jeito particular, com uma visão do mundo e de quem vive nele que talvez valha a pena.
De poemas apaixonados (ou melosos rs) a críticas ferrenhas, postarei tudo. Tá decidido.

Gostaria também de, a partir desse "Oi!", conhecer meus leitores, ou pelo menos saber quem são. Então, escreve aí embaixo, ou manda um Tweet, uma mensagem no email, pra eu saber se você lê com frequência, se só passou e não gostou, se quer mais...

Espero postar muito mais produções, então, apareça sempre aí :)

O primeiro dessas que vêm já chegou. Tá no próximo post!

domingo, 5 de abril de 2015

O pó e o vento

Se o amor decidir caminhar
em uma direção apenas,
há penas que se observar
Condena-se o pó do universo
Ao perverso frio que ali há

Aliar a brisa ao infinito:
É visto assim o azedume
No gume afiado do olhar
Do pó que não tem mais receio
Do esteio correntes-de-ar

Aventura é correr no céu
Pisar só no alento criado
Vácuo que sustenta a loucura
Muito dura, mas não pra sempre
Mente o pó se disser que aguente

Mas diz sim, o pobre pó, ente
Do cosmos, amigo do vento
Acento no sopro da vida
Esquecida sempre que lembra
O pó de ser feliz; - emenda:

"Aqui está uma revogação
Quão útil, quão pura e quão sã
Bah!, jamais é que saberei
Onde se lê não quero amar
Leia-se me apaixonei"