sexta-feira, 21 de junho de 2019

Resenha de A Maçã Envenenada, de Michel Laub


Olá, pessoal que acompanha o Leve Mediocridade. Li esse livro pela primeira vez durante a disciplina de O Romance Brasileiro & A Arte da Tradução do programa de pós graduação da University of Arkansas e agora o reli. Como deu vontade de falar o que eu percebi, compartilho com vocês esta medíocre resenha. Vamos lá.

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Estamos sujeitos à mesma crise, contínua e estendida, pela qual passa o narrador. O suicídio e suas notícias tornam-se cada vez mais presentes, aproximando-se por vários meios. Temos acesso em A Maçã Envenenadatrês fios narrativos e é interessante como as perguntas não respondidas em cada um deles parecem deixar uma mensagem sobre o problema: uma positiva, uma negativa e uma neutra. E a esse emaranhado de opiniões que não são dadas, mas apenas sugeridas, o leitor é quem precisa dar sentido. Se quiser. 

Os questionamentos do protagonista nos envolvem até o pescoço. O tom confessional com que o narrador relata seu romance com Valéria nos faz mais empáticos e nos arrasta para a sua dúvida. Durante a leitura, fazia para mim mesmo perguntas que não deveriam ser minhas. E isso se dá porque a história do narrador-personagem se mescla às histórias das pessoas famosas elencadas no livro, o artista Kurt Cobain e a escritora Immaculée Iligabiza, para nos oferecer pontos de vista conflitantes, mas validados em si mesmos. O contraste entre o que é e o que poderia ter sido também é muito presente.

Nunca tentei suicídio e nunca presenciei uma tentativa, mas o texto me abalou mesmo assim. Sem julgamentos ou comentários tendenciosos, o narrador trata dessa questão da maneira mais direta que as circunstâncias permitem. Um leitor que já tenha passado por isso terá muito com o que se identificar. Além disso, mostra-se também a perspectiva de alguém que esteve à beira de se considerar culpado pela tentativa do outro de tirar a própria vida.

Olhando por um lado mais técnico: por vezes, o narrador parece interrogar o leitor. Em diversos trechos, como "Você sabia que terminaria assim, não é mesmo?" senti que ao mesmo tempo em que o personagem endereça sua fala a outro personagem, o narrador fala com quem o lê. Nesses momentos, o plano a partir do qual o narrador fala se torna confuso, mas isso é interessantíssimo: a ambiguidade dos trechos o aproxima de nós enquanto o ritmo acelerado da narrativa se mantém constante.

4 estrelas pelas repetições (talvez necessárias, mas de que não gosto muito). Feitas em um tempo de narração psicológico, não-linear, podem causar estranhamento. No geral, ótimo livro. Recomendo àqueles que gostam de tramas psicológicas, de complexidade e de reflexão.