terça-feira, 23 de junho de 2015

SangueS

Sangue de plebe, sangue de pobre
Sangue de rico, sangue de nobre
tudo pingando no solar
pigmentando o mesmo lugar.

Pingo de um.
Pingo. Pingo de outro.
Pingo de um.

Uma roxura blasfêmica
para o poeta que vê e prefere
não comparar
à cor dos quebrados porque a sorte bateu.
Roxo tanto que as palavras em repulsa
se envergonhariam com a descrição lilás
por isso não se doam não, se vendem
ao que escreve, o único
que tem interesse na alocução, aliás.
Fogem da cor da mistura
(carnavalesca, de
sublime feiura
beleza grotesca
natureza absurda).

sexta-feira, 12 de junho de 2015

A mancha


Cai café,
mancha de tempo os distantes
por um pequeno instante
toda mancha da vida
vira um emaranhado de palavras
Indistinguíveis
Exceto por quem já foi manchado
Pelo mesmo café

Os camaradas oferecem pano
Ou sugerem fotografar
Cada mancha
Adotada como um cãozinho
Marrom-escuro
Escolhido por afinidade
Por um ou vários ou todos
Todo não sou já é

A mesa é branca
mas nela se evita espírito
E é redonda
Mas nem se fala em currículo
É única barreira
E havia há minutos até
Parede alta e espessa
Alicerçada em restos de relógio
Digital, de pulso, de parede, analógico
Construída a blocos de notas
De cem reais
Grudados à melosidade
De relacionamentos
Materiais tão resistentes
Diluídos em café
Tão facilmente

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Comoção, comodidade

Foges como
Ideia na rua
Feres de parecer
Aberta sutura
E minha lava rubra
Dessângua nos tímpanos
Verdade falsária
Mornidão que me para

Comodidade a exalar
E dor que não dói
Nem cirurgião médico
Está apto a expurgar
Pois confortante e confortável
Como um ombro protético
Finito e pagável
Restrito e hermético

Me comoves.
E como o fazes!

sábado, 6 de junho de 2015

In-Sônia

Está na dela
Nadando nas entranhas
Mergulhou em Sônia
Num salto mortal

Nariz que não inspira
Apontado pro fundo.
Não deixa um segundo
De nadar, cachorrinho
Sem temer que se fira
Se impulsiona à carne

Carne, desejo, sexo
Sexo, paixão e amor
Sede, de água e ternura
Não sono.
Ilumina a cor que colore o preto
De tão forte o pigmento
Com a luz dos olhos
Arregalados
Como se a sentir
O terror que vem mais tarde