domingo, 29 de março de 2015

O banho

Felicidade em apuros
Mergulho pra longe do pranto
De molho, molho em mim tudo
O sentimento é de escuro
Debaixo de um Rio que é Branco

No fundo essa grande serpente
Se arrasta e faz som de medo
Arrasta com ela até gente
Pra fotos e quadros, poentes
Que invadem muito mais que textos

As águas transpassam minha carne
Como os prótons de um Raio-X
Impresso no preto, um decalque
Vejo pedaços de alma lavada e
branca como um chão de giz.

Me pergunto se o que de mim levam
Essas tênues e vis correntezas
Fica tudo pelo caminho e secam
Ou mais embaixo no rio, uns pegam
Minhas dores, amores e brejas

sexta-feira, 20 de março de 2015

Queria amar de pouquinho

Rio daquele cuja súplica antiga
Era pra sua vida uma paixão em
Temperatura alta que além de capaz
De impulsionar com a propulsão
Feroz dos combustíveis
Que levam à lua
Distancia do chão
Em proporções surreais
Veloz de dar mais medo
Em quem tá vendo de longe
Que em quem tá vivendo de perto.

Ele só queria amar de pouquinho
Em pouquinho se perdeu pro vício
Na dopamina que vem do abraço dela
É bela, mas de amá-lá, o ofício
É o mais árduo
É pesado sustentar-se neutro
Todo vício tem seu custo
O deste - puto! - são os mesmos:
Atenção e desejo direcionados
Necessitados todos de ela

A saudade se torna rainha
Da - coitadinha - consciência
Mão de ferro, não tem piedade
Nem tem pena, nem tem dó
Quando julga, quebra as pernas
Mata Jó de impaciência
E o velho de Hemingway volta
Vara torta, sem resposta
Do mar

É triste, por isso
Essa é uma piada daquelas
Amarelas que só quem conta ri
Uma brincadeira de tão mal gosto
Que nem gosto de falar disso.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Um poema meloso


Tenho vontade de chamar-te, amor
Para saber que vou chamar-te amor
Antes que eu te assuste ou te afaste
Ou fique mais bobo que a imagem que tens de
mim
E me mate

Não me amedronta a bobagem, dê-me trela
O que me põe medo é a sua reação a ela.
Justifico: meu ritmo é diferente
Demoro todo o tempo que não passa
balançando cabeça e pés
Em músicas quentes
Mas movo cadeiras, salões invado
Se o mundo à minha volta é desacelerado
E me deixo embalar sem preocupação
Pela melodia da calma, envergonhada e
gostosa...
Canção
Que me cantou lenta e sorrateiramente
Silenciosa e clandestina, mente
Pras cordas do meu violão
Eu sigo a partitura submisso
Esperando pelo momento de improvisar
Mas preparando a improvisação.

domingo, 8 de março de 2015

O clichê

Penso em vários, toda hora
é hora de pensar no clichê
que em português é famoso
pelo cantar pomposo do Djavan

E quando, súbito, me usa como
instrumento anomo de sopro pra se libertar,
o clichê quer falar muito mais alto
do que tímpanos fracos podem suportar

Eu - nem acredito - respingo
no chão, na parede, nos móveis, no teto,
com um resquício inquieto de culpas
passadas, irresolutas, mas não mortas
Jamais mortas! Porque
Pesa mais o clichê do que a gravidade
duma situação de verdade em que eu
pro mundo e pra Deus falo o que penso
Intenso. O mundo me olha
dos pés a "enlouqueça!"
que o sonho feneça, se o clichê não for
pro pensador a mais cruel das verdades.