segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Presente

Te colei em todos os meus calendários
E os calendários em toda parede
As paredes em toda memória
As memórias em todo sonho
Os sonhos em toda a vida
A vida em todo o todo

Espalhei-te pela grama do jardim
Pelo teto diário do meu quarto
Pelas prateleiras com os livros
Pelo caminhar dos sapatos
Pelas roupas, pelos cheiros
Tudo tem seus pedaços

As histórias dos poemas são as suas
As linhas deles são tecido teu
Mas a agulha sou eu quem perfura
Teço versos cheirando a ti
Guardo como vestidura
Cada estrofe é um traje

Visto todo dia roupa bela e nova
No espelho aparece a coluna ereta
Que orgulho da silhueta agora
Pelos cantos a esbanjá-la 
Pelos meios eu caminho
Todo cheio de bossa 

Chove a tua infinitude
E rega a flor da minha pele
(É um já-sinto) e são ele floresce!
Aromatiza essa vida amiúde 
E todo cheiro ruim vira bom perfume
Cheiro de primavera que atrai vagalumes

Tenho um pouquinho da tua luz num vidro
Não   muita,  mas  em  minha  face  aplico
Gasto   parte  de  manhã   no  meu  sorriso
E em  tudo  que  é  ruim eu vejo o positivo
Sei que  tenho um  tanto,  mas  economizo
Até  tu   chegares   e   dar-me  mais  brilho

terça-feira, 10 de maio de 2016

Panorama

Escolhes ombros que escolhem ombros outros
A foto panorâmica da tua vida tem mostrado
Há um monstro amigo que persegue-te em sonhos bons

Tua insistência cansada pelo tempo acalma
Apenas quando o tempo já não assusta
Tua inércia aperta forte e explode o querer
Desmorona-te despercebida, desapercebida, em não ser.

Palavras inquilinam-se em teu pulmão enfraquecido 
E, veja! Tomam-no como lar
Vão abrigando convidadas espaçosas
E, se quando de respirar te lembrares já não mais possas,
É porque já lhe tomaram, sem esforço, todo o ar.