terça-feira, 25 de agosto de 2015

Poema IV

O silêncio é meu cigarro.
Por favor, apague as ladainhas
no cinzeiro logo ao lado.
É proibido falar.

Fume, fume
fume, fume
fume, fume
sua fumaça infernal
E me deixe tragar a ausência de palavras,
de sons, de elo
e, sobretudo, de alma.

Se nem meu corpo se satisfez,
se nem minha carne se encheu de sangue,
é porque até de conversas bestas
se cria atração intelectual, não se
cria de aparência, porém, e
não se criou da tua fala.
Por isso o sexo foi murcho
mesmo que insistas na tara
de dizer que foi bom, mas faltou impulso.

Sinto o cheiro forte do silêncio
essência de decepção que me encobre.
Ainda bem! Já não sinto o aroma da tua importância
que antes infestava minha ânsia.
Isso é ciência, meu Deus,
Ciência do olfato.
O silêncio
é meu cigarro.


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Poeminha de amor?

É muito mais fácil 

amar antes de saber.

Antes de entender que 

o amor não é repentino.

Depois...

Depois disso, só o gostinho

De bocas já bastante beijadas

Pelas experiências, pela cevada

Pelo sofrimento.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Nighty you


Noite, desaperte meu pescoço manso
e permita o humilhante discurso.
Ah, crepúsculo que oprime ensinando a paz,
madrugada que inútil me faz,
não te consigo ser dia,
apesar dos raios de sol 
Que - mesmo que sejas fria - insistem em estampar 
                                                                [teu seio.
Que reluzem em tons de azul ora fosco, ora bruto.
Que me permitem um olhar, ainda que turvo, 
                                                  [para o teu existir.

É um nevoeiro, é sim, só pode ser!
Para não ser passageiro não há mais razão.
Alternativa: a desilusão noturna vai se impor
e viverei no enegrecer pálido do céu,
um vulto insano, louco por luz,
até que venha o súbito pôr-de-mim
e poderei raiar novamente 
depois de alimentar-me do néctar da tua escuridão.

Serei eu capaz de descomplicar
as tuas sombras quase sólidas, ou elas,
como a percepção de ser só, lhe dão
tua tão importante solidão?

terça-feira, 4 de agosto de 2015

O banho


No banho que demora vidas

As duas mãos na face usada

Não significam nada mais que expurgação do sujo

Enquanto pingos de água e lágrima

Descendo pela pele pulam

(O fim é o chão) apostam corrida


Como as vias rubras desenhadas pela agonia abarrotada de arrependimento e culpa

Que ousou fazer-se líquida

Mas estável - e surda - como rocha


Espalha-se pelo corpo


Queima. Bolhas, dor, feridas

Ácida da acidez da vida

Até chegar ao fim.

sábado, 1 de agosto de 2015

Face imolada

Ainda é possivel enganar-se
E enojar-se do mesmo umbigo
Que agrada tuas obsessões

Banhar-se com o mesmo mel
Que te adoça a boca
E grudar na poeira que o acaso traz nas costas

Ainda é possível. Ainda
Que o cuspe suje a cara
Ao molhar a queimadura
Em formato de máscara
Que a verdade imolou.